segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Repleta

Todos os dias eram monotonia, e quando algo de diferente acontecia, era bom naquele momento. Mas, então, em breve, o vazio estava de volta. Como realmente preenchê-lo? Era a grande questão. Foi estranho trilhar o mesmo caminho, depois de tanto tempo. Porém, quando as coisas mudam, de verdade, talvez possa ser o que chamamos de progresso. Olhei para o caderno, e as palavras tremiam, como se estivesse dissociando. Fui dali para outro lugar, ou talvez fosse apenas a exaustão, conformidade, ou aquele misto de sentimentos que é tão difícil de explicar. Com olhos cansados, observava enquanto o vagão se movia, entorpecida, sem conseguir fazer nada. Inúmeros rostos, que se perdem na multidão. A busca incessante pelo prazer, a efemeridade. O medo de se expressar, de errar. Quantas vezes não nos sentimos inúteis, ultrapassados. Bombardeados de informações, o tempo inteiro. Quando, justamente, o que mais falta é tempo. Muito das relações, como elas eram, se perdeu. O toque, o olhar. Tudo deve ser rápido, enquanto me sinto em um loop eterno. Perdida, consumida pelo furacão. Passando pela rua, observando tudo em volta, comendo uma maçã. De repente, escutei alguém a me chamar, pedindo comida. Por um momento parei, quase virei, como se fosse responder algo. Mas não sei o que o tempo tem, que nos faz continuar e encarar situações como esta com naturalidade. Será que aquele estranho do metrô estaria ali de novo, a me sorrir naquele mesmo vagão? Se esse é o meu pensamento, ao invés de pensar na pessoa que está na rua a pedir comida, talvez haja algo de errado. Comigo, com todos nós, com o mundo. E tem algo no não dormir, ou dormir mal, que deixa as pessoas mais atentas, talvez até mais sociáveis. E, então, eu percebi que o vazio diminuiu, ele já não se faz mais tão presente. Parece que algo mudou. Parece que tudo mudou. Parece que voltei a sentir. Sentir? O quê? Creio que só o tempo poderá me dizer. Não há como ser feliz o tempo inteiro, ou ter sempre paz de espírito. Mas, podemos sempre tentar ser alguém melhor, conosco, com os outros, com o mundo.

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