terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Queda Livre



Subo no terraço e ando até a beirada, é tão alto aqui. E se eu simplesmente me
jogasse? Eu poderia dar mais um passo, e simplesmente deixar meu corpo cair.
Só mais um passo. Então me puxe pelo braço, antes que seja tarde demais,
olhe nos meus olhos e diga que tudo vai ficar bem, por mais que essa seja a
maior mentira do mundo. Pois só eu sei o quanto me perco na profundidade do
seu olhar, e no quanto ele demonstra realmente acreditar em mim, acreditar que
posso ser alguém melhor. Porque a vontade de morrer não me acompanha o
tempo todo, eu sinto tantas outras coisas, até mesmo esperança. Mas, quando a
vontade vem também, é tão forte que ela pode parecer a única saída. E ela
aparece de tantas formas, seja no sentimento de fracasso, seja na crença de que
você é um monstro que machuca todos a sua volta, ou nos momentos em que
você simplesmente se sente muito triste, sem nenhuma razão aparente, e tem
vontade de deixar de existir. Talvez a esperança não apareça de tantas formas, e
com tanta frequência, mas ela também existe, pode acreditar. Ela aparece na
forma de um sorriso, de uma palavra amiga, do sentimento de realização. E, por
mais que as coisas pareçam terríveis, elas vão melhorar, acredite. Eu já estive
tantas vezes nessa montanha-russa de sentimentos, e posso garantir que quanto
menos você acredita no poder das coisas boas, pior é.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Misto

O vulto no espelho, apenas um reflexo de tudo aquilo que você menos aprecia em si mesma. Ingênua, você realmente acreditou que em algum momento poderia ser independente e se olhar com orgulho? Às vezes, a vergonha da imagem no espelho é tão grande. E, apesar de tudo, você tem que continuar vivendo, talvez este seja o seu maior fardo. Será que a vida é só isso mesmo? Esse misto de dor e raiva, entrelaçado a pequenos momentos em que alguma coisa parece ser diferente. E ter alguém ali, ao seu lado, que simplesmente te ajuda e te consola, é bem diferente de ter alguém que quer achar problemas e te julgar. E é aí que você percebe que realmente não tem ninguém para te ajudar, você está completamente sozinha. Então, acho que simplesmente cansei de tentar atender as expectativas alheias.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Às vezes

A chuva nunca para. O peso acumula. Até quando estaria tudo bem? Essa era a grande questão. É difícil pregar os olhos quando monstros te cercam. Não, pior ainda, eles estão dentro da sua cabeça. E não há como ficar bem, quando as coisas sempre se repetem. Ser obrigada a fazer coisas que você não quer, e a responder quando não tem vontade, isso cansa, e muito, isso torra a paciência. Nada é melhor do que preencher o papel com as suas verdades, somente você e os seus pensamentos. Pois, os outros, serão sempre os outros, egoístas, que desejam que você fique da forma como eles querem, a esposa "perfeita", e não de acordo com o que você realmente sente. Às vezes, eu queria gritar, socar algo até a minha mão ficar em carne viva, apenas para ver se a raiva passa. Será que é tão fácil assim? Ou será que ela simplesmente continua, entalada na garganta? Só quero dormir, esquecer um pouco dessa realidade que, às vezes, se parece mais com um pesadelo. Quando as coisas estão bem é ótimo, mas, quando elas estão ruins, você sabe exatamente como deixá-las muito piores.

Infeliz

Só a gente sabe o inferno que vive, dentro da própria cabeça. O breu do lado de fora da janela, e as luzes da cidade. Cansei de sentir medo. É impressionante, a forma como marcas nos levam a refletir. De repente, o silêncio se intensifica, se torna esmagador. Mais uma parte de você se foi, e quantas mais precisarão ir embora? De que vale a sua vida? O que você se sente fazendo de útil com ela? Absolutamente nada. Você vive para aguentar o peso do passado, dos tropeços. Pois, a verdade é essa, as pessoas não esquecem, elas nunca esquecem. E o que você pode fazer? Fingir que o passado não está lá ou recomeçar do zero? A grande questão é: o que dói menos? É muito difícil saber, como não estar infeliz. Às vezes, sinto como se fôssemos apenas dois estranhos. Não sei mais quem você é, e não sei mais quem eu sou. Mas, uma coisa é diferente, eu me preocupo com você, não importa o que aconteça. E não quero pagar para ver o dia em que isso vai acabar também. Não quero tomar nenhuma decisão precipitada, ainda mais quando qualquer escolha parece errada. Mas, fica cada vez mais difícil acreditar em nós dois juntos. Eu não me vejo com nenhuma outra pessoa, e me ver sozinha também é muito difícil, mas será que seria tão difícil quanto está sendo agora? Jamais achei que passaria por isso de novo, preferir sumir, morrer, do que causar mais estragos na vida das pessoas.

Limite

Cadê o limite, no meio de tudo isso? Talvez ele já tenha sido ultrapassado, há muito tempo. Não, tenho certeza, ele foi ultrapassado, e nem tudo pode ser consertado. A insegurança, a solidão, os traumas, eles grudam como uma segunda pele e consomem tudo. Em lugar do amor há receio, há repulsa, há o medo. Medo, talvez o pior de todos eles. Recomeçar não é tão fácil, quando tudo no exterior continua sendo o mesmo. Parece que você tenta, tenta e tenta em vão. Você está fadada ao fracasso, a essa medíocre vida de ora solidão ora desespero. Você não quer estar só, pelo menos não o tempo inteiro. Mas, parece que é esse o seu destino, estar sempre só, não importa a quantidade de gente que tenha em volta. Praticamente ninguém te entende, e você está quebrada demais para dar abertura a qualquer um que pareça ao menos se importar. Ninguém é perfeito, isso é fato, mas deve haver um limite para todo o transtorno psicológico. Não é possível que não haja uma cota, para toda a gritaria, para todo o barulho. Nesses momentos, que falta o silêncio faz. Somente nele é que consigo me entender e enxergar alguma luz, qualquer espécie de luz, qualquer migalha que seja. Pessoas nunca são o que acreditamos que elas sejam, é tolice nossa criar tantas expectativas. Mas, um dia, ainda vou recomeçar do zero, de verdade. Ir para bem longe daqui, dos mesmos lugares, das mesmas pessoas, do mesmo sofrimento. Pois, já vi que consigo me sentir bem comigo mesma, eu sei que consigo, e quanto menos força me puxando para baixo melhor. Esse é aquele raro momento em que você respira fundo e realmente sabe o que é melhor para você, independente do que os outros vão achar ou falar. E, ninguém mais precisa saber dos seus motivos, você só precisa buscar o melhor caminho para ficar bem.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

O espelho distorcido

Um momento, eternizado pela lente, acompanhado de tamanha indecisão. Enquanto, do outro lado da tela, olhos alheios analisam, com base no que pensam e no que sequer haviam percebido. Logo ali, abaixo, está o amontoado de opiniões. Entre julgamentos, e a vontade de ser quem não se é, muitas verdades permanecem ocultas.
Aqueles que olham, através da tela, não sabem o que se passa antes ou depois. Quantas crianças sonham com a possibilidade de ser modelo, de ser atriz, de ser "famosa". Mas, será que elas têm ciência do preço que se paga?
Perdidos entre realidade e ilusão, muitos veneram o que vêem. Mas, todos somos seres humanos, todos cometemos erros. Quem vê imagem não enxerga insegurança, não enxerga toda a gama de sentimentos por trás daquele clique. E, em meio a tantas manipulações da imagem, o que sobra de verdadeiro?
O glamour está no olhar de quem cobiça. E por trás de tudo isso existem pessoas tão transtornadas quanto você, ou até mais. Pois, são apenas pessoas normais, elas não são sobrehumanas ou perfeitas. Quando vão aprender, que fotografia é arte para ser admirada, não invejada? Afinal, desde quando alguma foto é garantia de felicidade?

A verdade nua e crua sobre os ensaios fotográficos é que: você pode se depilar e colocar a sua melhor roupa mas, se algo parece errado por dentro nem todo o Photoshop do mundo pode consertar isso. E de que adianta, se espelhar em algo fabricado, quando o palpável é o que realmente importa?