Última vez

Eu fecho os olhos e lembro de tudo, da forma como nossos corpos suados deslizavam um sobre o outro, e os remédios me ajudam a superar isso, ou até mesmo esquecer. Esquecer que a culpa foi toda minha, como sempre, esquecer que aquela foi a última vez. Sinto falta do teu toque, não entendo o porque desse meu hábito de só saber o que quero quando um erro foi cometido, e então já é tarde demais. Suas mãos macias, o calor de teu corpo, a forma como nos completávamos, e subitamente tudo escapou de minhas mãos. Doces devaneios os que tenho agora, de que tudo irá ficar bem, recusando-me a acreditar que desta vez é diferente. Eu era feliz, eu sabia o que queria bem lá no fundo, então simplesmente porque? Porque sempre estrago tudo e saboto minha própria felicidade? É muito difícil saber que você mesmo é o seu maior inimigo, que és o vilão de tua própria história. E tudo que eu queria agora era um abraço seu, no qual você nunca mais me soltasse, nunca mais me deixa-se ir embora. Mas você merece voar, você merece ser verdadeiramente feliz, longe de toda essa confusão. Você merece uma felicidade tamanha, que sempre aleguei ser incapaz de lhe proporcionar, e agora você percebe isso com seus próprios olhos, a verdade nua e crua. Talvez eu nunca aceite, mas com o tempo vou pelo menos entender, que seu lugar realmente não é a meu lado. Não é a primeira vez que choro na volta para casa, mas provavelmente a última. A última vez que estou nesse lugar, a última vez que olho em seus olhos. Sinto falta da forma como você fazia tudo ficar bem, independente das dificuldades, tudo parecia tão simples. Acho que agora preciso de mais um remédio, mais uma dose de esquecimento e conformação, só mais uma, e tudo ficará bem novamente. Eu passei por várias fases para chegar até aqui, aquela felicidade pura que raramente existe, negação, tristeza, aceitação, inúmeras vezes, e tudo de que eu necessito agora é o esquecimento, aquele esquecimento doce e profundo, onde esqueço do fato de que não vejo como prosseguir minha vida sem você.