O último passo

Juro que estou tentando participar, realmente tento, mas porque para os outros parece tão fácil e para mim é tão difícil? Escutei alguém chamar meu nome, apenas ilusão, mas me pareceu algo tão real. Vejo vultos, meus dentes começam a ranger diante de pessoas tão superficiais, e me pergunto porque somos tão vazios. E eu bebo constantemente pra esquecer, talvez esquecer as dificuldades da vida, mas será que beber é mesmo a solução? E no dia seguinte, não há sequer um poro de meu corpo que não exale o cheiro de álcool. Tremo entre uma música e outra, entre um suspiro e outro. Estalo os dedos constantemente, tudo oscila, minhas mãos, minhas pernas, inclusive os locais ao meu redor, e então volto ao passado. Olho através do espelho, é como se outra pessoa me observa-se, já não me sinto eu mesma, e também não sou mais esse ser refletido. Só quero que essa dor de cabeça passe, e faria qualquer coisa por isso, até mesmo tomar um litro de vodka com um frasco de aspirinas. Porque sempre tenho que mentir, me fingir de forte, quando tudo que quero desesperadamente é vomitar? Vomitar inclusive as palavras nunca ditas, as desculpas nunca pedidas. Procuro me atentar aos detalhes, meus dedos inquietos, sua falha no nariz, ambos olhos lacrimejando, e você tenta me analisar. Mas como descobrir o que se passa em olhos tão vazios, e numa mente que não segue nenhum padrão fixo? Interpretei tão bem o papel de ser fria que até mesmo você acreditou, o único que não deveria acreditar. O tempo demora a passar, e eu só queria poder reverter o relógio, para ser diferente do que todos pensam e do que esperam que eu seja. Agora preciso me jogar, preciso sentir o chão frio para ter certeza do quanto tudo é real, mesmo que de forma doentia.