quarta-feira, 26 de abril de 2017

Ambivalente

Observo a luz que reflete na poça e desmancha, com o tremeluzir da água, e então eu dissocio, de repente estou em outro lugar. Acho que me viciei em você, no teu cheiro, no teu beijo, no teu toque, tua voz, e isso dá medo. Pois tudo que tenho a oferecer são mãos que sufocam, palavras que machucam. E o medo do abandono é real ou apenas imaginado? Já nem sei mais, só sei que o vazio só faz aumentar. Uma dor aqui dentro do peito que jamais cessa, um imenso buraco negro que nada pode preencher. Brinquei de me entregar, mais uma vez experimentar, tentar esquecer as coisas ruins do passado, e acabei indo longe demais. Tudo escorre por entre minhas mãos, escorrega pelos dedos, nada permanece, se faz fixo. Somos seres mutáveis, porém minha personalidade é imutável, jamais poderei fugir dela, me esconder, sou quem sou. Aquela com o imenso vazio, aquela que sufoca, manipula, sofre, chora, muda de opinião, de humor, constantemente, se entrega, quebra a cara, esquece e vive tudo de novo, num loop infinito, no ciclo vicioso que é essa vida. De vício em vício, de corte em corte, sem jamais achar um sentido, sem entender a si mesma. Um dia todos vão cansar, não restará mais ninguém, e você irá se ver sozinha, talvez para o bem, talvez para o mal, você finalmente crie algo que nunca teve, coragem, para o quê, só você mesma sabe.

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